sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Líderes do G20 concordam em combater manipulação cambial

Os líderes do G20 concordaram em evitar a "desvalorização competitiva" das moedas
Stefan Rosseau, Pool, EPA

Os líderes das vinte maiores economias do planeta concordaram em evitar a “desvalorização competitiva” das respectivas moedas, para tentar afastar o risco de “uma guerra monetária”. Estes e outros compromissos foram obtidos após um segundo dia de difíceis negociações na cimeira do G20 que decorreu em Seul.

No comunicado final, o G20 alerta para a importância da coordenação das políticas num mundo cada vez mais globalizado e avisa que a ausência de uma acção conjunta poderá ter consequências desastrosas “para todos”.

Os líderes reunidos na capital sul-coreana concordaram em estabelecer “linhas de orientação” para ajudar a corrigir os grandes desequilíbrios comerciais “que necessitem de acções preventivas e correctoras”. Uma referência às divergências sobre a a balança comercial que opõem os Estados Unidos à China e envolvem também os restantes países.

Reforma bancária, clima e FMI...

Durante a cimeira, os membros do G20 endossaram ainda o conjunto de novas regulamentações para o sistema bancário conhecido por Basileia III, que devem entrar em em vigor a partir de 2013, e o aumento dos fundos próprios das instituições bancárias até 1 de Janeiro de 2015.

No que respeita à reforma do sector bancário o G20 manifesta-se determinado em definir novas regras para os bancos considerados “sistémicos” cuja lista será elaborada, até meados do ano que vem, pelo Conselho de Estabilidade Financeira.

No comunicado final da cimeira prometem também combater o proteccionismo “sob todas as formas” e intervir em auxílio dos países mais pobres, com abordagens “talhadas à medida de cada destinatário”.

Os vinte reafirmam ainda o seu empenhamento no combate às alterações climáticas, comprometendo-se a “não poupar nenhum esforço” para garantir o sucesso da conferência que começa no final deste mês em Cancun no México.

Outro dos principais resultados da reunião foi o endosso à reforma histórica do Fundo Monetário Internacional que duplica o seu capital e modifica a repartição de poderes.

A difícil questão da moeda

O conflito em torno da manipulação das respectivas moedas que opõe os Estados Unidos à China e a outros parceiros era encarado como o principal obstáculo ao sucesso desta cimeira.

Washington acusa Pequim de manter artificialmente baixo o valor da sua moeda, o que além de conferir às exportações da China uma vantagem injusta, permite a este país acumular grandes reservas de capital. Por seu lado, a China tem vindo a garantir uma intenção “inabalável” de reformar o seu sistema cambial, mas afirma que é necessário que se atinja primeiro a “estabilidade económica global”.

No que pode ser visto como uma contra-medida, a cimeira a Reserva Federal norte-americana anunciou há dias que vai injectar 600 mil milhões de dólares novos” na economia dos EUA o que teria o efeito de desvalorizar o dólar.

Depois de árduas negociações, os países do G20 ficaram-se por uma delcaração de intenções: Comprometem-se agora “a caminhar para sistemas de taxas de câmbio determinados pelo mercado”. Isso será feito “aumentando a flexibilidade das taxas de câmbio para reflectir os fundamentos económicos subjacentes e abstendo-se de proceder a desvalorizações competitivas das suas moedas”.

O comunicado do G20 prossegue dizendo que “as economias desenvolvidas, incluindo as que dispõem de fundos de reserva, vão estar vigilantes face aos excessos de volatilidade e às flutuações desordenadas das taxas de câmbio” acções que segundo o G20, “ vão ajudar a reduzir o risco de uma volatilidade excessiva dos fluxos de capitais com que se defrontam alguns dos países emergentes”.

Taxas de câmbio devem reflectir "realidades económicas"

A este respeito, o Presidente Barack Obama disse que não deveria haver controvérsia sobre a resolução dos problemas “que ajudaram a contribuir para a crise que acabámos de atravessar”.

“As taxas de câmbio devem reflectir as realidades económicas”, disse Obama, “as economias emergentes devem permitir que as suas moedas sejam conduzidas pelo mercado. É uma questão que eu abordei com o presidente Hu da China e vamos cuidadosamente seguir com atenção a valorização da moeda chinesa”, concluiu.

Por seu lado o primeiro-ministro britânico, David Cameron acredita que estão a ser feitos progressos na questão dos desequilíbrios comerciais. “Muito devagar, a China está a passar para uma posição em que aumenta o consumo doméstico, reequilibrando a economia” disse Cameron.

No entanto o acordo obtido em Seul fala apenas de desenvolver novas “linhas de orientação” e fica muito aquém do limite de 4% aos défices e excedentes do comércio nacional, que os EUA queriam ver implementado e que foi bloqueado pela China e pela Alemanha, os principais exportadores mundiais.

Um FMI mais "legítimo”

No que respeita à reforma do Fundo Monetário Internacional pode também falar-se de sucesso, apesar de as negociações entre os EUA e a China terem estado por vezes à beira da ruptura.

O comunicado final do G20 diz que a reforma é “uma etapa importante para um FMI mais legítimo, credível e eficaz”.

Foi aprovado o princípio de “uma duplicação das quotas partes” que tinha sido proposto em Outubro numa reunião de ministros das finanças e dos bancos centrais do G20 e os países europeus concordaram em reduzir em dois lugares, o número de assentos que detém no conselho de administração. Por outro lado, “mais de 6 por cento dos direitos de voto do FMI vão ser transferidos de países que se encontram sobre-representados (principalmente os mais ricos e os produtores de petróleo) para os países emergentes. Desta forma, 110 dos 187 estados membros verão dos seus direitos de voto aumentados.

O comunicado final declara a intenção é a de criar “um FMI mais moderno que melhora reflicta as mudanças na economia mundial, através de uma maior representação dos mercados dinâmicos emergentes e dos países em desenvolvimento”. O director geral do Fundo Monetário Internacional, Dominique Strauss-Khan, diz que a reforma resolve de uma vez por todas “a questão de longa data que se punha sobre a legitimidade do FMI”.

Europeus tentam acalmar mercados

À margem da conferencia de imprensa final da cimeira do G20, o Reino Unido, França, Alemanha, Itália e Espanha emitiram uma declaração conjunta em que tentam acalmar os mercados preocupados com a eventual necessidade de um recurso ao Fundo Europeu de Estabilidade por parte da Irlanda, e eventualmente, de Portugal.

“Segundo a declaração, assinada pelos ministros das finanças dos cinco países, “qualquer novo mecanismo (de resgate) só entrará em efeito após meados de 2013, e não terá qualquer impacto nos acordos actuais”

Fonte: RTP Noticias

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